quarta-feira, 14 de março de 2012

RESIDENCIAL IGNÊZ ANDREAZZA, o gigante abandonado


Quem entra no maior conjunto habitacional da América Latina, com 2.464 apartamentos divididos em 23 blocos, 176 prédios e mais de 14 mil moradores, localizado na Avenida Recife, no bairro de Areias, logo imagina estar em um grande cortiço. As garagens dos carros mais lembram ratoeiras, com grades por toda parte, e muitas vezes transformadas em pontos comerciais. O lixo, animais soltos, ratos, baratas e até escorpiões, o vandalismo e a falta de manutenção do pátio do conjunto complementam o degradante cenário, distribuído em 30 hectares de área.
Construído há quase 30 anos, o Residencial Ignêz Andreazzgantea nasceu de um projeto elaborado pelo arquiteto Acácio Gil Bolsoi, que pretendia fazer do local o maior e o melhor conjunto residencial do Brasil. Mas parece não ter dado certo. Hoje, o retrato é do abandono. Inadimplência dos condôminos e ausência de apoio dos órgãos governamentais, assim como das grandes empresas prestadoras de serviços - Oi, Celpe e Compesa - são algumas das causas. Além, é claro, da falta de cooperação e até mesmo educação de muitos moradores.
A área do Conjunto Residencial Ignêz Andreazza ainda comporta uma escola estadual de 1º grau, a Senador Nilo Coelho, com 1.550 crianças; dois campos de futebol e três quadras polivalentes, hoje todas em péssimo estado de conservação. Como se não bastasse, alguns moradores resolveram montar pontos de comercialização em algumas garagens, como oficina mecânica, bar, mercearia, pastelaria e venda de água mineral e refrigerante. Uma verdadeira esculhambação, bem a cara do Recife.
O Ignêz Andreazza apresenta vários problemas que só serão resolvidos com fechamento total do terreno do conjunto que hoje sofre com várias invasões, assaltos e uso indevido da sua área até para despejo de esgoto inatura do comércio vizinho, além disso, o local serve de atalho para veículos que trafegam entre a Avenida Recife, em Areias e a Av. Tapajós, na Vila Tamandaré, também falta um sistema de segurança. O medo ocasionado pela insegurança dentro e fora do condomínio é constante. Os moradores afirmam que não conseguem se sentir mais seguros no próprio local onde moram. Os assaltos são corriqueiros e não tem ninguém que tome as providências, nada que impeça a fuga de bandidos, pois o condomínio é aberto, entra e sai quem quer. Sem ter uma solução, as pessoas vivem assombradas e se trancam dentro dos apartamentos atrás das grades. Segundo os moradores, o policiamento inexiste na área, o que aumenta a sensação de insegurança. O condomínio se tornou uma vitrine de assaltantes, que vêm e escolhem o que querem roubar. Se ele quer celular, se ele quer carro, eles vão lá e levam o que querem. Os bandidos agem durante o dia, à tarde e a noite e a insegurança é tão grande que é difícil encontrar alguém que não tenha sido vítima da violência nesse conjunto de edifícios.
No conjunto todas obras iniciadas são sempre paralisadas por falta de recursos e pela inércia dos síndicos. O fechamento do terreno do conjunto de prédios anda a passos de tartaruga e sempre acaba ficando só na promessa dos síndicos eleitos. As eleições para síndico acontecem a cada 4 anos, os candidatos são muitos, mas a participação dos moradores tem diminuído a cada pleito, o que acaba favorecendo uma má escolha do novo administrador do local. Por isso, a gestão de cada síndico eleito é sempre um fiasco total, não conseguindo agradar nem a 10% dos moradores. E assim, os anos vão se passando e nada melhora para os moradores do Ignêz Andreazza e a qualidade de vida deles só piora, a insegurança só aumenta e a desvalorização dos imóveis é também uma constante.
O conjunto habitacional é uma cidade dentro de outra. Apesar de ter uma população maior que muitos municípios pernambucanos, não recebe o FPM - Fundo de Participação do Município, embora todos os órgãos públicos tenham o Ignêz Andreazza como uma boa fonte de recursos. A população é tão grande, que uma estação de tratamento exclusiva da Compesa foi montada para atender a demanda, mas, ela sempre funcionou precariamente. Faltam lá um espaço de lazer revitalizado, uma melhora na manutenção e na pintura dos prédios e na iluminação das áreas externas com mais pavimentação e um sistema de drenagem, além de uma estação coletora de lixo eficiente no conjunto.
No conjunto, são quase 80 funcionários entre efetivos e terceirizados distribuídos pelos setores da administração, segurança (funcionando precariamente) e zeladoria. Além da limpeza e manutenção, que mesmo deixando muito a desejar, compõe uma onerosa folha de pagamento que consome todos os parcos recursos arrecadados dos moradores, segundo consta na prestação de contas da atual administração e, por conta disso, acaba não sobrando nada para investir em melhoramentos no condomínio. É uma verdadeira empresa preste a falir, certamente. Uma bomba preste a explodir na mão de quem estiver à frente da sua gestão. O estranho mesmo é que não faltam candidatos nas próximas eleições para síndico, inclusive a atual síndica, que concorre à reeleição.
Será que existe alguém no Ignês Andreazza que conseguirá reorganizar a administração dos 23 blocos e representar bem os mais de 14 mil moradores que compõe o conjunto, para assim poder fazer as correções de todas as falhas que o conjunto hoje apresenta? Será que essa pessoa existe e ela conseguirá contar com o apoio da maioria dos moradores para mudar a cara do condomínio? Será que tudo continuará do mesmo jeito, após a eleição que se avizinha, com um síndico novo ou com a continuidade do antigo?
Com a palavra o morador do Ignês Andreazza e órgãos competentes.
Adroaldo Figueiredo
(81) 8691.3131